Neste dia da mulher...




Pitchfork: Do you find those things - being in love, being smart, being a girl- incompatible?
Kevin Blechdom: I think...yeah, it's hard. Fuck it. It's hard.*


... apresento-vos uma senhora muito especial: Kevin Blechdom. Se soubermos que o seu projecto final de curso era uma espécie de ópera de 40 minutos intitulada Recantata (que narrava a história de alguns professores seus que foram acusados de crimes que não cometeram, como mais tarde se veio a provar), percebemos que há ali qualquer coisa, uma ética muito própria que não se compadece com falsos moralismos e que gosta de chamar as coisas pelos nomes. E é assim a música de Kevin Blechdom. Armada com um portátil, um piano e um banjo de cinco cordas, Blechdom é dona de uma frontalidade obsessiva que a obriga a converter românticas canções ao piano em verdadeiros requiems de tensão pré-menstrual, temas melosos por excelência e toadas de fim-de-namoro-e/ou-relação-marcante-que-exige-kleeneexs em concursos de tiro, não ao alvo mas ao romantismo da canção, em pequenos exercícios de atropelamento de qualquer essência romântica (atenção: o tom está lá mas todas as outras semelhanças são meras coincidências). Atrevo-me a dizer que não são apenas exercícios de atropelamento e fuga do romantismo da canção. Naaah! Blechdom faz marcha-atrás e passa a ferro o romantismo já inerte e é provável que espreite pela janela, exibindo um grande sorriso, e nos acene com o banjo se achar que é boa ideia! E não se fica por aqui: o romantismo atropelado é depois envolvido em composições dignas de desenhos animados e em estilos musicais contrastantes que suavizam e dão uma certa comicidade ao conjunto violentamente passajado por pneus. Em palco, há uma energia invulgar e divertidíssima em fundo de encantamento inocente e Kevin ora fala de desgostos amorosos ora de plásticas ao nariz.


(ontem na ZDB)


São estas as facetas da música de Kevin Blechdom, nome artístico de Kristin Erickson, que me fizeram escolhê-la para esta singela mensagem dirigida a mulheres que ora gostavam de atropelar alguém ora fazem pontaria a muita gente com uma candura ímpar. Mas há outra razão: a americana nascida na Florida em 1978 e residente em Berlim actuou ontem da Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. E veio acompanhada por Christopher Fleeger, a sua alma-gémea, num projecto a dois intitulado Barnwave. Depois de subgéneros musicais como o Cold Wave e o New Wave, Kevin e Christopher - uma excelente parceria - parecem ter inventado o conceito de Barnwave, um novo fôlego para a música country que, segundo os próprios, é definido como «high-tech-country» ou «wireless-ragtime». O projecto é muito curioso: digamos que envolve banjos em quantidades generosas, um chapéu de pele à Davy Crockett, casacos com farripas, muitos risos e pulos. À custa de divertidíssimas músicas como «Monster», «Lazy», refrões como «I played Chicken with a Train» e... o grande tema que se segue, «Gravity», o dia da mulher não podia ter começado melhor! Parabéns a todas!

(At last we have found GRAVITYYYYYYYYY)


*Excerto da entrevista retirado daqui.

11 Responses so far.

  1. Anónimo says:

    Eu estive lá ontem!

  2. Anónimo says:

    Não és homem não és nada se não fores ao concerto de Bug daqui a duas semanas!

  3. Vou investigar e ver do que se trata. Um excelente dia da mulher para ti!

  4. Anónimo says:

    Vais odiar... Mas vale apena tentar: é compincha do Blixa Bargeld.

  5. O teu argumento é muito forte mas o meu radar detectou apenas uma colaboração do Sr. Bargeld num álbum desse tal Bug.

  6. Anónimo says:

    O que não invalida que o "London Zoo" tenha sido um dos melhores discos de 2008!

    Sem Blixa.

  7. Com Blixa seria o melhor álbum 2008-2010. Se calhar lá nos vemos!

  8. Anónimo says:

    Tenho as minhas dúvidas.
    Hoje, no mesmo curral, Matt Elliot deu um concertão!

  9. Nesse dia fiquei-me por um filme que anda agora nos cinemas e aconselho vivamente. Religulous é um documentário celestial q.b.!