A filosofia de um momento Xau

Um momento Xau é uma daquelas ocasiões na vida em que sentimos um verdadeiro poder desinfectante na alma. É um breve instante de limpeza efervescente que tira as nódoas incrustadas e mais resistentes. Restos de quotidiano cinzento e manchas de tédio esvaem-se num abrir e fechar de olhos. É imbatível contra as nódoas e, por vezes, não ataca o estômago. Um momento Xau pode revestir-se de uma camada de aparente trivialidade mas quem já teve um sabe como são raros e peculiares. Afogam-se mágoas e afundam-se tristezas como navios de dois canos num jogo de batalha naval. É mais rápido que a submersão de um Titanic cortado por um iceberg de detergente em pó. De facto, são tão peculiares como um certo ritual dos samurais. Perante a inevitabilidade de um combate mortal, os guerreiros tratavam calmamente de limpar e puxar o lustro às armaduras. No seu leito de morte, Oscar Wilde ofendia sem dó nem piedade o papel de parede do seu quarto. Um momento Xau surge de algo aparentemente trivial e comezinho que se torna mais importante do que tudo o resto. Um momento Xau é isto mesmo... tornar o irrelevante essencial. E eu gosto desta (falta de) lógica.
Depois da digressão.... deixo-vos com o momento Xau do ano. Para além de não ter caído da cadeira por pouco e de quase me doer o estômago de tanto rir (consequências que viriam a ter um grande impacto na minha banal vidinha se se concretizassem, nomeadamente ao nível do cóccix e do meu sistema digestivo), fiquem a saber que se algum dia virem um desconhecido a roubar um Emmy... pode muito bem ser o Ricky Gervais. O Steve Carell é absolutamente impagável. Vejam como resiste ao furto. Tudo se passou em directo na última cerimónia de entrega dos Emmys. Assistam em diferido aqui na lavandaria.